ENFIM AS FÉRIAS... Colaboração: Gisvaldo Jr.

( Estrada do Paraiso ao Gonçalo, 200 km longe de casa )

Enfim as férias...

Era primavera de 1989, eu era caixa do banco Itaú em Feira de Santana, não fazia idéia de quando seriam  minhas férias. Estava cansado, “estourado”, precisando de um descanso. Foi ai que chegou um novo gerente na agência em que eu trabalhava, e, em seu primeiro mês de trabalho, começou a regularizar as férias de todos os funcionários da agência que tinha férias vencidas. Chamou-me em sua sala e disse: Junior você sai de férias em 15 dias! A princípio fiquei eufórico, muito feliz, mas em seguida pensei: caralho, para onde vou de férias em pleno mês de outubro????

A ideia...

Nessa época era estudante de economia e para minha sorte a universidade estava em greve.  Pensei em fazer uma coisa que sempre tive vontade, uma turnê de bicicleta pelo sertão da Bahia; precisava apenas, convencer algum amigo para me acompanhar na viagem...só um cara poderia aceitar esse convite  meio heterodoxo:  Guto, meu amigo de infância. No final da tarde assim que saí do banco, passei na casa dele e falei: daqui a duas semanas estarei de férias e quero fazer uma viagem, quero que você venha comigo!

Guto: para onde nós vamos? (já se incluindo na viagem)

Eu: estava pensando em fazer uma turnê pelo sertão da Bahia, visitar o máximo de cidades possível, pedalar durante 30 dias... E claro que esse roteiro passa pelo Gonçalo... ( povoado a 200 km de Feira de Santana, na época com uns 800 habitantes )

Guto: legal essa viagem

Eu: Só que quero fazer  essa viagem de bicicleta!

Guto: não tenho bicicleta, me arruma uma e tô dentro!

Eu: sem problema.  No outro dia  falei com um amigo meu do Banco, Pedro, que tinha uma bicicleta igual a minha ( monark 10, bike de corrida ) que me emprestou sua bike. Fiquei contando os dias até nossa saída.

Quem não poderia saber da viagem... ?

Tinham duas pessoas que não poderia nem sonhar que nós dois iriamos fazer essa viagem:

1ª a noiva de Guto (Soraia) era extremamente ciumenta e chata pra caralho e claro, iria colocar gosto ruim, e sabotar nossa viagem delatando nosso plano para mãe de Guto.

2ª a mãe de Guto, que tinha acabado de fazer um procedimento cirúrgico no coração e com uma noticia dessa tínhamos medo que ela enfartasse. (assim atrapalharia a viagem)

Bom, para noiva de Guto, falamos que iriamos para Jacobina de automóvel sob alegação de que Guto iria conseguir uma representação de ouro para trabalhar. Como ela queria casar logo, achou que o cara iria ganhar muito dinheiro, ia ficar rico (risos). Para mãe de Guto, falamos apenas que iriamos viajar... Quanto menos falássemos, melhor para o coração dela.

Para minha família falei a verdade, como diz um grande amigo meu chamado Nicholas: se você for fazer alguma coisa  fora de contexto, pelo menos uma pessoa deve conhecer a verdade.

Bom... Precisava contar a Luciana, minha namorada...  é  assim que  Lu entra nessa história. 

Um mês antes da viagem, foi morar em meu bairro uma menina que também trabalhava em banco, um dia jogando vôlei na praça vi uma menina conversando com uma grande amiga minha (Carla), ai pensei: carne nova na área...assim que acabou a partida, fui lá e falei __ boa tarde Carla, não vai me apresentar sua amiga nova? Essa é minha vizinha nova, disse Carla, ela veio de João Pessoa (Paraíba), transferida para a agência do Banco América do Sul daqui de Feira... Esse ai é meu amigo Júnior... Depois de um tempo conversando com as meninas, e como bom anfitrião, me escalei para apresentar a noite de Feira a Luciana...  Ela disse por mim tudo bem, desde que Carla  vá conosco, a noite passei na casa delas e fomos a   um barzinho no centro da cidade. Carla não me deu à mínima chance de ficar sozinho com Luciana, fazia sinal para Carla ir ao banheiro e sempre que ia, Luciana a acompanhava. ( gostaria de saber por que porra mulher só vai ao banheiro em dupla). Fiquei puto da vida com isso, mas tarde levei as duas para casa, assim que Luciana entrou, chamei Carla e quase dou uma engarguelada nela... pô Carla, por que tu não inventou que iria falar com alguém, fazer qualquer coisa para me deixar sozinho com tua amiga! Ai, ela me disse: Luciana acabou de sair de um relacionamento de anos, muito complicado e não quer se envolver com mais ninguém. Junior, você não tem chance alguma com Luciana, tentei te poupar de um fora. Ok Carla amanhã combinei com Lu que sairíamos novamente, e vê se dessa vez tu inventa  alguma coisa e cai fora. No outro dia, conforme o combinado saímos só que dessa vez Carla me pediu que eu levasse algum amigo,  e assim eu fiz levei Zé Carlos um grande amigo meu. Fomos nós quatro para um barzinho, voz e violão, quando chegamos lá  inventei para Lu que precisaríamos pegar uma amiga minha que queria ir conosco.   No trajeto, parei o carro no meio pista e depois que trocamos algumas palavras ataquei Lu, para quem não tinha chance achei que ela ofereceu pouca resistência( risos)Assim começamos a namorar (vai entender cabeça de mulher).

Com uma semana de namoro, falei para Lu que estaria de férias em uma semana, e que iria viajar, notei pelo seu semblante que ela não gostou de ouvir aquilo,  completei: vou viajar de bicicleta pelo serão. O QUE??? De bicicleta, você tá maluco??? Tô, respondi... Quanto tempo você vai ficar viajando? Perguntou Lu, não sei ao certo, no máximo trinta dias, o período das férias, disse. Notei que Lu não gostou do que ouviu e durante toda a semana tentou me dissuadir de minha idéia.

Quinta Feira, noite anterior à viagem.

Fui a casa de Lu me despedir dela e a mesma estava com uma cara de poucos amigos, disse ela... Você desistiu de sua idéia idiota???? Falei que não, e que essa viagem era um coisa que queria fazer há muito tempo. Ela me abraçou e insistiu para que desistisse dizendo que sentiria muito minha falta. (geralmente causo esse impacto.... kkk). Depois de alguns segundos de silencio, falei: preciso ir para casa dormir amanha saio cedo,  Luciana teve um ataque de fúria, incorporou (kkkkkk) e disse tomara que vocês cheguem com as bicicletas nas costas, seu idiota. OK... Vou chegar mesmo nem que seja com a bicicleta nas costas;

Sexta feira, dia da viagem...

Eu e Guto saímos de casa por volta cinco horas da manhã, com bicicletas que não era apropriadas para uma viagem desse tipo, nossas bike eram especializadas para corrida em asfalto bom,  e em grande parte da viagem não tinha nem asfalto. Antes de chegarmos a primeira cidade, tinham alguns homens matando um boi, próximo a estrada... Pensei em parar e tirar uma foto, mas desisti da idéia, pois, talvez não gostassem de minha intromissão, e não se deve contrariar quatros homens que têm machados e facas nas mãos. Seguimos caminho e paramos numa cidade chamada Tanquinho a mais ou menos 36 km de Feira de Santana, a parada foi para tomarmos o café da manhã, demoramos uns 20 minutos e continuamos a viagem, embora fosse primavera, parecia que tinha um “sol” para cada um, por volta do meio dia paramos em um povoado que não me lembro do nome, tínhamos pedalado uns 80 KM, o sol estava rachando  a gente, queríamos encontrar um lugar para descansar, comer alguma coisa e tomarmos um banho... O povoado parecia uma cidade dos filmes do velho Oeste,  fomos até uma bodega onde tinha um rapaz atrás do balcão, entrei e perguntei se tinha naquele lugar um hotel, pensão ou algo parecido para que a gente pudesse descansar. O rapaz foi direto... Isso temos não, aqui num tem isso não moço, mas lá na outra rua tem um breguinha que tem uma meninas que além de descansar elas ainda” faz” uns “carinho”. Agradeci a sugestão e falei para Guto, vamos seguir nosso caminho... Por um momento achei que Guto queria considerar a proposta... Olhei para ele e disse: a ultima coisa que a gente precisa agora é de puta ( risos ) Continuamos pedalando e parando nos postos de gasolina para abastecer a agua do cantil e comer alguma fruta. Era quase cinco horas da tarde,  estávamos a 2 km de Capim Grosso, cidade que dista de Feira de Santana uns 160 KM, minha ideia era dormir no Gonçalo, para isso precisávamos pedalar mais 40 km, entretanto, quando entrei em Capim Grosso, dei de cara com meu tio que mora lá. Ele ficou assustado e disse: da onde você ta vindo.... de Feira... Falei, e para onde você vai ??? Pro Gonçalo, ele ficou na frente das bicicletas e disse, você é louco... Como pode fazer umas coisas dessas??? Apenas sorri e disse, tô de férias e resolvi sair para dar uma vota de bicicleta... Ele disse, hoje você dorme aqui, não sai daqui de jeito nenhum. Não poderia recusar o convite, estava sujo, todo empoeirado, com sede e fome e meu tio era dono de duas belas pousadas na cidade...  Dormimos em Capim Grosso e pela manhã tomamos um café da manhã reforçado, com bastantes frutas e sucos e seguimos nosso caminho, na estrada tinha uma placa dizendo: Paraiso a dois Km. Lembrei-me da musica da banda BLITZ (estou a dois Passos do Paraiso).  Chegamos ao Paraiso, Guto olhou a “cidade”  viu que estava muito seco, uma seca terrível, pouca gente nas ruas a poeira subindo e perguntou: È aqui o Paraiso? Fiz sinal positivo coma cabeça, Imagine o inferno disse Guto. Vamos pedalar mais 12 km de estrada de chão até o Gonçalo, assim podemos descansar. Por volta do meio dia, paramos na praça onde Pezão e alguns amigos estavam tomando cerveja (novidade, essa galera do Gonçalo bebendo). Tirei o dia para visitar meus amigos do Gonçalo... Fui à casa de Tonho de Tezinha.

( Guto, Ed, Pernambuco, Pó, Paulão... rio do Gonçalo )

( Serra de Jacobina e seus 500 degraus ) 

Tonho de Tezinha.

Tenho um amigo de infância lá no Gonçalo conhecido como ” Tonho de Tezinha” um mulato de estatura mediana.  Tonho foi o maior comedor de jega da história do Gonçalo, sei que o Gonçalo foi uma terra prodigada nesse quesito (comedores), mas ninguém amou as jegas como Tonhão, do Paraiso ao Km 30, ninguém se compara a Tonhão na arte de lascar as bichinhas.

Tonho tinha ido levar um rebanho de gado do Gonçalo até o Caém ( mais ou menos 40 KM de distancia ) embaixo de um sol de secar açude, tanto que seus lábios estouraram, ficou todo machucado e sangrando(apesar de ser mulato e estar acostumado com sol forte). Tonho me perguntou se eu tinha alguma pomada para passar em seus lábios. Achei que era uma oportunidade de sacanear Tonhão, ai  peguei uma pomada chamada reparil gel, que era para contusões e que queimava pra caralho, quando passava na pele, e coloquei uma quantidade generosa em seu dedo, dei um espelho com a moldura cor de abóbora( daqueles que você encontra nos quartos das empregadas ) e falei, passa de uma vez... Quando Tonho passou, saiu louco gritando de dor... E eu  cai fora da fúria dele.

No outro dia arrumamos a mochila e seguimos viagem, fomos até Jacobina a 220 Km de Feira de Santana, subimos a serra e  seus 500 degraus, apreciamos a vista lá de cima, e fizemos algumas fotos. Passamos a noite em Jacobina e pela manhã, seguimos viagem, não tínhamos um roteiro pré-definido, ficávamos viajando de cidade a cidade, de povoado a povoado, de roça em roça, o que determinava nosso destino era ir aos lugares onde tinham cachoeiras, e  festas, visitamos várias cachoeiras maravilhosas, e algumas boas festas. Na maioria dos povoados que visitávamos só tinha um telefone que ficava  no posto  telefônico, tinha a preocupação de fazer duas ligações por dia, uma para minha mãe dizendo o lugar onde estava ( para me encontrar, caso precisasse falar comigo com urgência) e outra para Luciana. Sempre que ligava para Lu, desde o primeiro dia, ela me pedia para voltar, dizia que estava com saudades. Contava a ela as cidades e os povoados que visitava, falava das incríveis cachoeiras no meio da caatinga parecendo oásis, e que queria que ela estivesse lá; ela (claro) se mostrava pouco interessada. Em um dos lugares que cheguei, procurei o posto telefônico, e liguei para ela, nesse dia ela me deu um ultimato, disse que se eu não voltasse em 3 dias( no máximo ) não precisaria voltar mais, e ainda completou: quando você voltar terá outro em seu lugar. Falei para ela que ainda não tinha terminado meu roteiro, e que precisava continuar pedalando, embora estivesse com saudades. Ela completou: em 3 dias é aniversário de meu sobrinho, esteja lá, senão fique aonde está. Mesmo ouvindo aquilo e sabendo que ela estava magoada, tentei ser gentil com ela e disse: ou CARALHO, onde está a saudade que você disse que estava sentindo de mim? Você esta avisado, disse ela, e desligou o telefone. Não me lembro de onde estava, mas retornei ao Gonçalo, à noite conheci um cara chamado Paulão que tinha acabado de chegar se São Paulo e tinha trazido um rádio enorme ( antigamente todo nordestino que visitava São Paulo trazia um radio ), Vi que eles faziam uma espécie de gato( ligação clandestina ) na torre na praça e assim ouviam  musica a noite toda, tomando 51 com limão... e para aumentar a cachaça, um mês antes tinha morrido Raul Seixas e eu tinha levado uma fita de Raul, era mais um motivo pros cara beber ouvindo Raul. No outro dia me disseram que tinha uma seresta( nem gostava de seresta ) no Caem, então, pela manha arrumamos as mochilas e pedalamos até lá. O lugar estava lotado, a musica até que era boa,  eu e Guto ficamos tomando cerveja ouvindo musica, olhei ao redor e vi uma menina de  pé, sozinha. Ai falei pra Guto, já tô fudido mesmo, então vou lá. O som estava muito alto, não tinha como conversar direito.  Fui até lá e chamei- a para dançar, ela fez sinal com a cabeça que não...  Cocei a cabeça, olhei para Guto ela estava se acabando de rir de minha cara e fazendo aquele tradicional sinal com as mãos batendo uma na outra,  o sinal de:  se fudeu. Ai educadamente, pedi um momento à menina e fui até onde Guto estava e falei: ou sua DESGRAÇA, para de ficar me azarando ai. (claro que não adiantou). Voltei à menina que vamos chama-la de C.( sei que mora ainda no lugar e não quero causar constrangimento a ela) ai perguntei onde paramos: ela disse em lugar nenhum...você deve ter percebido que não somos daqui, disse, e aquele bobão ali é meu amigo, que vai rir de mim a viagem toda se você não dançar comigo, mostre que você é uma menina educada e aceite meu convite, prometo que desapareço depois. Não posso dançar com você, eu tenho namorado. Não que duvide de você, mas estou te olhando a duas horas e não vi ninguém ao seu lado.  Ela disse: ele é musico, e esta tocando em outra cidade. Ficamos conversando um tempo, ela me perguntou se na minha cidade eu não tinha namorada... Disse que tinha, mas por vir a essa festa ela tinha terminado, ai ela perguntou por que você não a trouxe? Porque minha bike não tinha garoupeira...  Ela riu e disse: vou dançar uma musica com você, apenas uma (pense numa menina gente boa e bom papo ). Começamos a dançar, na terceira  musica eu tinha um técnica.  Você começa a dançar com a menina, se ela já esta na terceira musica, você começa a dar um cheiro no cangote dela e uns beijinhos do lado do rosto, se ela virar é só sair para o abraço. Só que dessa vez não deu certo, quando procurei C. ela tinha escorregado dos meu braços e me deixado sozinho no meio do salão com cara de tacho.  Abri os braços para Guto e perguntei gesticulando: o que eu faço? Ele disse vai atrás. E fui mesmo, lá  fora, conversamos e depois de umas duas horas começamos a namorar...ela me perguntou quantos dias ficaria na cidade, respondi que só aquela noite e que iria embora amanha pela manhã bem cedinho, ela pediu que saísse mais tarde para que pudesse se despedi de mim, falei que iria tentar, pois minha viagem era de bike,( ela não acreditou). Pela manhã, nos vimos na praça, ela me viu de bike e acreditou, pediu meu endereço e semanas depois recebi uma linda carta dela, pedindo que era para aparecer qualquer dia. Nunca mais a vi.

Pedalamos para outra cidade, a noite liguei para minha mãe que me deu a seguinte notícia: Junior, você precisa voltar... Acabou a greve, suas aulas recomeçaram. Disse: volto amanhã bem cedo, você chega amanhã? Perguntou. Não mãe,  estou a 300 km de Feira de Santana e vou de bike não de Helicóptero.

(Cachoeira do Paulista – Saúde-Ba 260 km longe de casa )

O acidente...

Quando desliguei telefone... Horas depois, minha mãe recebeu uma ligação que um amigo dela,( irmão de minha madrinha) em um assalto, tinha sido assassinado em Capim Grosso( 160 km de Feira de Santana). Pela manhã eu e Guto arrumamos as mochilas e saímos muito cedo, vínhamos pedalando em um ritmo bem forte as vezes alucinante, vinha com muita saudade de Luciana, não via a hora de chegar e ir a casa dela.  Na mesma manhã, minha mãe viajou sozinha, de ônibus, para Capim Grosso, se déssemos muita sorte, mas muita sorte, nossos caminhos se encontrariam em algum ponto da estrada. Minha mãe tinha certeza de que iria me ver pedalando pela estrada, por isso veio a viagem toda de pé no ônibus,  e quando as pessoas ofereciam a ela o assento, ela recusa dizendo que precisava ver os filhos dela passando de bicicleta( ela chama Guto de Filho ). Há uns 45 km de Feira de Santana, eu vinha à frente de Guto, quando um caminhão fez uma ultrapassagem perigosa e foi para contra mão, eu gritei para Guto sair do asfalto para o acostamento, um chevette que vinha atrás da gente teve a mesma ideia, e foi para o acostamento, para não atropelar a gente tentou voltar para pista, e rodou feio, bateu na bicicleta de Guto jogando ele numa ribanceira... Continuou rodando e foi para o meio da pista, batendo no ônibus em que minha mãe estava... (aquilo foi inacreditável) o chevette bateu o fundo no ônibus e ficou todo destruído, um homem mais velho saiu gritando que seu filho estava dentro do carro, gritava muito, a mala do carro estava totalmente destruída, ele  apontava para a mala, ai eu perguntei, ele está na mala? Ele disso, não... Ele está no banco de trás, coloquei meu pé na lataria do carro e forcei com muita força a porta que estava amassada e emperrada, até conseguir abri-la e tirar o menino de uns 12 anos( mais ou menos) são e salvo sem nenhum aranhão. Minha mãe olhou pela janela me viu e não viu Guto, e saiu gritando... Perguntando  muito assustada por ele, falei ele tá lá embaixo, mas esta bem. Desci,  puxei ele e a bicicleta, Guto estava muito assustado, quando viu minha mãe, começou a dizer sua mãe é uma santa, sua mãe é uma santa... Até hoje não entendi aquela frase. Minha mãe viu a bike de Guto com o pneu e jante todos arrebentados e perguntou  como prosseguiríamos, disse que consertaríamos e que ela podia entrar no ônibus e seguir viagem. Queria voltar para a cidade mais próxima e consertar a bike e continuarmos pedalando, Guto se negou... Estava muito assustado, disse que levaria ele até a cidade para colocarmos em um ônibus e seguiria viagem... Mas depois resolvi voltar com ele... Andamos um bocado empurrando as bikes e chegamos a uma cidade, onde desmontamos as bikes e colocamos no bagageiro do ônibus, a principio o fiscal da rodoviária não queria deixar a gente embarcar, ai gritei com ele : nos sofremos um acidente e vamos embarcar sim,  ele concordou. O ônibus parou perto de casa e fomos empurrando as bicicletas, colocando-as nas costas... Lembrei-me da frase de Luciana: “ tomara que você chegue com as bicicletas nas costas”. Parei e pensei: que praga da desgraça dessa paraibana infame. Tomei um banho demorado e fui até a casa de Lu, louco de saudades. Não tinha ninguém, fui até a casa de Carla que era vizinha, e Carla me disse que ela tinha se mudado e que Lu pediu a ela para me mostrar seu novo endereço. Fui em casa, peguei o carro, peguei Carla e ela me mostrou a casa de Lu e disse: antes de você falar com ela, me leva em casa e volta. Assim eu fiz, voltei e apertei a companhia... Lu saiu, mas parecia outra pessoa, segue a parte do dialogo que me lembro:

JR. O Lu que cara é essa?

Lu: A de sempre.

Eu: você não vai se jogar nos meus braços ( abrindo os braços)

Lu: Claro que não...

Eu: Caramba, num vou ganhar um monte de beijos???

Lu: Não

Eu: Pô Lu tava morrendo de saudades de você... Tem duas semanas que não ti vejo

Lu: seu prazo se esgotou...

Eu: como se esgotou? Temos todo tempo do mundo (falei rindo)

Lu: não sei onde você acha tanta graça.

Eu: Pô Lu, num deu para vir antes ... tava de bike e não de jato,

Lu: você fez a sua escolha...

Eu: Pô deixa de ser engangenta, faz jogo duro não... Pedalei cada metro da estrada pensando em tu misera... Vamos lá, vamos dá uma saída vamos sair troca de roupa e vamos pro terror .

Lu: não perca seu tempo... Volte pra sua viagem com seu amigo e sua bicicleta ridícula.

Eu: pô Lu... sofremos um acidente, quase morri, e vim celebrar a vida com você

Lu: você parece bem.

EU: a tá é que quem quase se fodeu fui Guto. Mas vamos lá abre a guarda e me dá pelo menos um abraço.

Lu: ela balançou a cabeça negativamente.

Eu: Ó amor... sei que você ta louca para se jogar nos meus braços.

Lu: (ela ainda com os braços cruzados disse) você esta perdendo seu tempo, e completou: Acho melhor você ir embora mesmo,  pois senão você vai bater de cara com meu namorado... Falei: você ta  maluca??? Seu namorado sou eu, e já cheguei... Tá bom, sei que esta com raiva ainda, vou para casa e amanhã volto pra ver se você está melhor! Entrei no carro... ela também entrou, olhou para mim e disse: lembra que disse que se você não voltasse naquele dia, não precisaria voltar mais? Lembro sim, pois então você não veio e cumpri minha palavra, não venha mais aqui... Ai falei pra ela: você continua com essa palhaçada de namorado né? Ela disse: estou namorando com uma amigo seu! Amigo? E ele daqui a pouco vem ai... Perguntei (já acreditando na paraíba filha da puta...) Quanto tempo vocês estão nisso? Ela disse desde o dia que falei para você chegar e você não veio... posso descer do carro? Perguntou ela, respondi que não... ai perguntei como é o nome dele? Você vai saber logo, mas saiba que é um amigo seu. Falei, amigo do demônio, não meu. Posso descer? Perguntou novamente. Não, ainda não, respondi. Falei o nome de uns 3 amigos meus e ela disse que não eram eles, e depois me disse: é Silvio!! Porra, Silvio??? Caramba ele era um de meus amigos de infância... fiquei alguns segundos em silencio... ela perguntou se podia descer... falei que não. Continuei em silencio ( até que não doeu, doeu pouco... doeu para caralho ). Ela disse: você não vai dizer nada... continuei em silencio, ela prosseguiu dizendo: fala alguma coisa... briga comigo... grita, me bate, mas fala alguma coisa... apenas respondi: não sei como era seus últimos relacionamentos... mas não estou acostumado com gritos e agressões... ela me olhou e disse: posso descer? Ainda não, respondi. E disse: seja feliz, você fez sua escolha, Agora desça. Lu desceu do carro e percebi que ela ficou parada, mas mesmo assim fui embora...

4 dias depois

Abriu um barzinho novo em Feira, Carla me pediu que a levasse na inauguração e também convidasse meu amigo Zé Carlos. Para minha surpresa o bar era próximo à casa de Luciana uns 30 metros. Pensei como vou a esse bar e de repente iria encontrar com Luciana e Silvio, entretanto não podia negar um pedido de Carla. Sendo assim eu e Zé passamos na casa de Carla e fomos ao tal bar (habitat era o nome do bar). Quando estávamos lá conversando e falando sobre assuntos diversos, sobre a viagem e suas lindas cachoeiras... Vi que Luciana e Silvio saiam da casa dela, e vinha em direção ao bar, eles foram chegando meio devagar, sem jeito e começaram a se aproximar de nós, foi quando... Bom, mas ai é uma outra história...